terça-feira, 13 de março de 2012
tudo que se quer dizer
existem coisas a serem ditas
depois de uma chuva quente.
existe um arrepio na pele
e um novo repertório de palavras;
o vocabulário da vida cresce.
a postura de oradora ganha corpo,
o vento fresco oferece muito;
dá à superfície espontaneidade,
engrandece os braços
e faz dos passos largos passos
mas um medo de dizer tudo,
um medo de escorregar na poça fria
e de bater no chão os cotovelos
engole as palavras e as volúpias
do banho quente e do sopro,
e tece nos azulejos manchados
um silêncio desinteressante,
comum como o quê.
esse silêncio de tudo que se quer dizer.
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2 comentários:
silêncios desinteressantes, comuns, que arrepiam na pele...
Há florestas no limo desse muro
Há ruas nas fissuras da cerâmica
No craquelê
do azulejo
tudo é quase só relume,
cidade inteira mesmo,
se olhamos bem direito...
E no verde mais sombrio desse musgo
há leopardos...
Há tantas coisas brotantes assim depois da chuva,
como pequenos continentes,
de se pular poças para alcançá-los...
como imensas enseadas,
de se estender os braços para poder abraçá-las...
E não importa nem se não há salto,
se o salto não se dá,
se no silêncio alguem fica...
Têm as palavras o seu tanto de dizer,
têm também elas o seu tanto de silêncio...
Têm neste, as palavras, um vão e um acontecimento
Tem muita coisa que se cala nas palavras...
E tanto é dito
nas engrenagens líquidas
do silêncio...
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