segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Momentos compartilhados



Na caixa de correspondências antigas, remexeu os envelopes com fome de novidades passadas. Abriu um atrás do outro, desdobrando folhas manuscritas e admirando cartões pré-fabricados de aniversário e Natal, com suas ilustrações e cores fortes. Alguns envelopes estavam lacrados, como se ainda não tivessem sido abertos. O tempo na caixinha fez com que o calor desse nova vida à sua cola. Reabriu-os, rasgando-os levemente. A emoção era de como se fossem recém-chegados. As mensagens pareciam novas, embora as situações fossem velhas. Há quanto tempo havia lido essas cartas! Em meio aos escritos em que identificava amizades profundas e íntimas, estavam as de pessoas que nunca mais reencontrara. "Não vamos perder contato", "por favor, mande notícias", "venha um dia nos visitar, continue falando conosco". Os apelos pareciam profecias. Prenúncios de um adeus de quem não se veria mais. Registrados em uma mensagem carinhosa. Bem sabiam que essa carta seria a maneira de reencontrar-se, permitindo que se reconectassem com aquele belo momento compartilhado. Poderia fazer uma busca nas redes sociais para, quem sabe, achar essas pessoas. Mas não faria sentido. Porque era claro o aviso de adeus. A consciência de que suas vidas se entrecruzam, fazem trocas e carregam consigo o reconhecimento dos frutos colhidos. Crescemos juntos, obrigado! Você foi importante para mim, para nós. Alguns papeis já amareleciam, denunciando o tempo. Mas as palavras não. O sentimento vinha a cada verbo que sorvia. vinha à tona o amor. Um amor necessário, de quem se constroi e ajuda outros seres a se construir. Não era necessário buscar essas pessoas, mas sim lembrar delas. De suas palavras, de seu agradecimento, do prazer de estarem juntos. Era necessário sentir esse amor. E deixar-se passar com ele em sua história.

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