quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Bala de menta

Peles morenas negras à mostra. Corpos de homens quase nus. Curvas. O mar logo em frente. O som apaixonadamente repetitivo das ondas. Demora para acreditar-me em Salvador. Também tem engarrafamento. Também abandonam filhotes de cachorro em Salvador. Mas é como se tudo fosse menos aterrorizante. Ou como se esse cenário transformasse tudo em bonito. O engarrafamento é de frente para o mar e tem vista também para os homens e mulheres desnudos correndo na calçada. Três cães abandonados mobilizam um grupo de pessoas ao seu redor, pensando no que fazer com os pequenos. Em menos de 30 minutos, todos são adotados.

No ônibus, uma mulher reclama do atraso, na esperança de um desabafo coletivo. Mas tudo se torna menos denso porque meu perfume parece se desgrudar da pele de repente. E depois dele vem o cheiro do mar. Os homens negros altos e baixos, com rasta e sem rasta, te olham, te observam e dizem que és linda. Na cara-de-pau de quem vive feliz a olhar o mar em uma tarde de terça-feira, te convidam para passear.

Os baleiros circulam no ônibus com a pele jambo e os braços fortes. Demora um tempo para acreditar-me em Salvador. Cada um ali, com sua rotina, alguns sonhando talvez em estar em outro lugar. Sensação de anestesia. A Barra à noite é como estar em um sonho. Compro cinco balas de menta do baleiro jambo para me convencer de que o gosto não está amortecido. Na camiseta do garoto do banco da frente está escrito "Vasco Salvador FC". Vontade de andar sem destino, a me perder pelas tuas quadras, Salvador. A bala de menta acaba. E a angústia de não me compreender em ti continua.

Nenhum comentário: