segunda-feira, 27 de julho de 2009
Mulher violão
Desde os 12 anos, a menina crespa queria um violão. Ganhou aos 16. Os anos se passaram e ele ficou encostado. As casas mudaram (as paredes), as cidades . Ela se tornou moça. Mulher. Violão. Sem que tivesse consciência, seus acordes mudavam. Suas partituras ganhavam notas. Talvez agora ela se escute. Escute a si. Seus sis e sóis. Suas pausas ritmadas. Descobre-se cantiga que virou tango. Descobre-se instrumento. Violão. Mãe de melodias que brotam. Ponto de origem dos sons de si. E de quem a carregou. Percebe as notas do flautista, seu arauto, certa de que conhece tão complexa musicalidade. Lá vai ela, confiante, onde o flautista a leva. Lá vai ela, violão, com o violão nos braços.
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Um comentário:
Mais importante do que aprender a tocar um instrumento é tornar-se um instrumento da própria voz, maviosa, feminina. Fazer-se soar, encantadora, aterradora, como as sereias. Será por isso o medo que têm de nosso falar, de nosso despudorado tocar as próprias cordas?
Roberta Mendes
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