Nnnngggggggllllllnnnnngggggllllllll!
Palavras presas. Sinto que nódulos de frases não ditas se embrenham na garganta.
O medo de estar só. O desafio de estar só.
Tem horas em que não adianta ter você por perto. Não importa se diz palavras de carinho, se faz um afago, se provoca risos. Não adianta.
É preciso saber estar só.
Volto-me à parede e respiro. Ouço o tilintar de sinos. Inspiro, expiro. Paro de julgar meu turbilhão de pensamentos. Sinto-me aliviada por saber que as pessoas enfileiradas à minha direita e atrás de mim, também voltadas à parede, querem aprender a ficar consigo.
Meia luz. O vento frio atravessa a fresta da porta de vidro. Lá fora, um jardim japonês, solitário e vazio, preenchido apenas pelos ruídos dos carros e helicópteros que atravessam a cidade.
Nnnnhhhhhhuuuuuugggggnnnnnnngggggglllll!
Quero dizer que não gostei do que você fez. Já aprendi a dizer isso, mas tem vezes que é difícil, mesmo sendo necessário. Vou dizer. Espere mais um pouco.
Eu subia a ladeira e passava pelos bares pensando que poderia ser legal encostar-me em um balcão e beber uma cerveja. Sozinha, falaria com o garçom ou então trocaria olhares com o músico.
Hesitei quando observei um violonista atrás das janelas de vidro. Ele me observou. Contornei o bar na calçada. Entro não entro entro não entro. Lancei mais um olhar e segui em frente. Carregava meu casaco como se estivesse abraçada com ele. Meu olhar era triste. Aquele momento era meu. Não era de bar, nem de músico, nem de garçom, nem de ninguém. Muito menos seu.
Tinha que aceitar. Tenho. É preciso ficar só vezenquando.
Hhhhhhhhuuuuuuugggggggggggg!
Nódulos, nódulos, nódulos. Sinto-os latejantes. Gritos contidos. Deixe-me ficar só! Deixe-me! Estou tentando, juro.
Caminho vagarosamente. Meio passo a cada passo. Sinto a calçada, observo cada centímetro das paredes das lojas. Já não viverei mais aqui. Já não serão mais essas as paredes da minha rotina. Já não será mais aqui minha rota. Já não darei mais dicas aos pedestres perdidos por essas redondezas.
Já não correrei mais contra o tempo. Já não mais. Já não. Já.
Pensei em lhe chamar ontem. Pensei que talvez você pudesse passar por mim de carro e me ver na calçada. Imaginei o carro freando, você saindo e aparecendo na minha frente feito um louco! Não diríamos nada, apenas nos encararíamos surpreendentemente felizes, nos abraçaríamos e nos beijaríamos. Como naqueles filmes românticos idiotas que sempre me fazem suspirar.
Hhhhhhhuuuuuuunnnnnnnnggggggggglllllllllll!
Não gostei do que aquela francesa me disse. Como eu gostaria de tê-la mandado à merda. Mas melhor do que fazer isso é aprender a ficar só. Ficar só me faz entender o quanto o mundo é vasto, as pessoas são grandes ou ridículas, e eu só sou eu porque sem mim não seria.
Então, foda-se a senhora francesa. Fuck off! Va te faire foutre!
Quando a gente fica só é que entende como é difícil. Esses nódulos de dor de não dizer. Não sei se é bem isso. Se é dor de não dizer ou se é dor de sentir.
Sinto que estou só, que sou só. Mesmo que você esteja por perto. Estarei só. Você também. Uniremos nossas solidões e nos daremos a sensação de juntos. E só. Mas é bom. É bom estar a sós juntos e estar só.
Por isso, voltei-me contra a parede sob a meia luz. Inspirei, expirei. Não julguei meus pensamentos.
Quero aprender isso. Ensina pra mim? Sim, sim, ensino. Mas você precisa estar disposta. Sim, estou. Então, vamos lá.
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