quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

estimado,

tenho saudade do que você era. isso é uma contradição! você era aquilo de que tenho saudade quando eu era outra. e não sinto saudade do que eu era, mas de você. mas se eu era outra, de quem não sinto saudade, já não faz mais sentido isso de que sinto falta. isso de ter saudade sua. por que é tão difícil? passei do que eu era. passei do que você era pra mim, entende? sou como acredito que deva, burlando minhas próprias regras-calcadas-no-outro-você. agora, justamente agora, vejo-me tão outra nos seus olhos. vejo-os me olhando, olhando assim tóim-óim-óim -- direto nos meus olhos -- tentando encontrar nofundeminh'alma resquícios do que eu era. também faço isso, será? talvez, sim. pode procurar. mas vou avisando que não vai encontrar. eu escrevia cartas e mandava pelo correio. eram coloridas, cheias de poemas, frases, ilustrações. colava figuras, recortes de revista, purpurina. mandei tantas que nem lembro. tenho saudade do que você era, mas também não há lembrança que me ajude a ter um pingo de saudade. mandei cartas que hoje nem sei. estranho, né? antes você parecia tão essencial. será que as pessoas são assim de ter prazo de validade? eu desvalidei pra você, será? será que você também me esqueceu de não ter lembrança nenhuma? e aquela carta que você mandou, lembra? contando daquela viagem... aquela pra... ah, você contava tanta coisa. mandava tantas cartas. mas, afinal, pra quem mesmo estou escrevendo?

(texto inspirado em [carta sete])

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