segunda-feira, 7 de junho de 2010

há mar

Tem mar ali perto. As ondas cantarolam na noite. Do quarto escuro e da sua história, de tudo o que o cerca e que ela não conhece, mas sabe que existe, dá para ouvir o ronco das ondas. Chega mais perto de um ronco esse barulho de água que vai e vem e bate e puxa e repuxa, muito mais perto de ronco, assim grave, assim grosso, ou de estouro até. Do quarto escuro da casa de madeira, por onde venta uma fresta de ar estreita, estreita, sente-se a brisa do estouro do mar. Há mar. E o mar dá todo esse gosto que nem sempre se conhece salgado, mas com tempero de paz. Estouros e roncos de paz. Calmaria. Acalento de alma acelerada, alento. Ela no quarto escuro da casa de madeira, num ponto do mapa lá onde o mar habita. Tem cachorro latindo. Água pelos canos. Um ou outro carro, janelas de madeira sacudidas pelo vento. E tem tudo isso e silêncio. Engraçado esse silêncio de sons. De mar, de cão, de vento. Conversa de namorados no quarto ao lado. Há escuridão e escurinho. É grande quando assusta. É pequena quando afaga. Ela se sente acarinhada pelo escuro. Na casa de madeira, dona de uma história toda, perto do mar. Nesse momento, não precisa de mais nada. Ouvir os beijos dos namorados, e os risos, suspiros, preenche. E lembrar-se de um querido é trazê-lo com ela naquele quarto. Tanta é a paz que se instala, que a própria faz esse milagre todo de presença. Uma inteireza. Um preenchimento. Um estado de alma abarrotada de si. Um estalo de beijo, um riso. Um estado, um estouro de si. E aquele escuro que não a deixa ver a parede entre seu quarto e o dos namorados. Tem tudo de uma mágica o quarto escuro dessa casa. E as mensagens e as histórias que as ondas do mar depositam na areia e carregam até a porta e sopram pelas frestas, as brisas em cochichos. Histórias de longe, de milhas, de milhares. Preenchendo o quarto, estalando beijos, deixando-a inteira. Nua, despida de trancas, de medos e dor. Vestida de mar, de sons, e escuro, afago, silêncio de sons, estalos, beijos. Em sua mais doce companhia.

2 comentários:

daise disse...

Pôxa, que lindo.

E que amar não deixe de haver – nem beijos de namorados. ;)

Beta disse...

Silêncios de som, paz instalada, beijos e risos. Há mar, e o mar é vasto, cabe tudo o que é amor. Lindo seu texto! :)