Anoitece
e a vida acalma
como não
houvesse tempo
o vento tece a alma
Ruídos do dia
são vencidos pelas horas;
elas, nocauteadas
pela noite
pia o fim do açoite
Noite permanece,
faz-se eterna;
aquieta-se
ensimesmada
aquece-me o nada
Traduz a lua cheia
A não urgência do espaço
Como só ela sabe
luz que cabe ao aço
A noite não urge
O dia ruge
Ruge
O silêncio noturno
mesmo específico,
não desbota o céu
único e pacífico véu
Permite ouvir
da janela ao lado
um talvez casal
fazendo amor, talvez
fado carnal, nudez
Devaneios enluarados
Preenchem a lua cheia
da noite cheia de lua
fartura
[foto: Yusseff Abrahim]
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