segunda-feira, 5 de maio de 2008

Humano, acima de tudo

Ontem, preguiçosa, desisti de ver um filme e mantive a tevê ligada durante o Fantástico. De repente, uma entrevista com Ronaldinho, o jogador de futebol. Eu, desgostosa com a imprensa -- e as hardnews, especialmente -- pensei: Quanta besteira. Por ser alvo dos holofotes, o pobre-rico precisa dar satisfações da própria vida em rede nacional. Teria Ronaldinho, o fenômeno, transado com travestis? Seria Ronaldinho, o fenômeno, gay? Teria sido Ronaldinho, o fenômeno, vítima de extorsão por três travestis com as quais ele não quis trepar? Sim, esse tipo de notícia ganhou o mundo. Ah, era para ser apenas uma noite bagaceira na vida desse pobre-rico.

Ronaldinho, eleito três vezes o melhor jogador de futebol do mundo e, há pouco tempo, levado ao cargo de embaixador da Unicef, como pôde?

"Sinto vergonha", dizia ele na entrevista. Indignada, pensava eu naquele homem decidindo se falaria ou não sobre sua vida pessoal na televisão. "Estou envergonhado por ter feito essa coisa estúpida", insistia ele em dizer. Mas o que ele está querendo provar? Eu pensava. Até que, finalmente, Ronaldinho disse: "O fenômeno, desculpe-me por falar de mim em terceira pessoa, é humano. Eu sou um ser humano. Eu erro, tenho fraquezas, fico triste como qualquer pessoa. É a oportunidade para que todos percebam, sou humano também."

Achei lindo, virei fã.

Ronaldinho não se põs diante da tevê só por causa dos torcedores, nem da namorada que ele magoou, nem dos patrocinadores, nem dos times de futebol, nem da Unicef. Ele se expõs para si. Se expõs pelo seu lado humano. Se expõs para dizer: Ei, vocês aí de todo o planeta! Deixem-me em paz, eu sou um ser humano, de carne e osso, eu choro, eu rio, eu NÃO SOU UM FENÔMENO! Do futebol, sim. Da força de vontade, sim. Da fé pela vida e pelo crescimento, sim. Mas também com direito de dar um chute torto e de ter problemas nos joelhos. Ainda assim, um ser humano.

A entrevista chegou ao fim e não mudei de canal. Que fenômeno de entrevista! Fiquei realmente curiosa para saber até onde a palhaçada chegaria. Quem diria, Ronaldinho virou o jogo, reverteu a ordem patética da entrevista, se expõs e disse o que queria. Estava triste porque havia errado. Para ele, havia errado. Para o resto do mundo, dane-se se se estava certo ou não. Porque acima de tudo, Ronaldinho, o fenômeno, é humano.

4 comentários:

Meire Cavalcante disse...

Dé,

sinto pena de quem precisa disso. De quem deve satisfações nesse nível, nacional. De quem se sente acuado e obrigado a dizer que errou (às vezes nem achando isso de verdade). O cara errou por quê? Porque saiu com travestis? Se se enganou ou não, pouco importa. Que as pessoas tenham o direito de viver como queiram. Concordo contigo: seria só uma noite bagaceira na vida do cara. Se ele não precisasse...

Débora Didonê disse...

sim, ningu�m merece precisar disso. no come�o da entrevista, achei o fim da picada o ronaldinho se submeter a isso. depois, no decorrer da conversa, observei o equil�brio e a maturidade dele. desfiz meu preconceito -- nunca o enxerguei como algu�m maduro, vivido, sereno. mesmo com o sofrimento pelo qual ele passou, soube lidar com essa situa�o chat�ssima da melhor maneira poss�vel. e aproveitou uma entrevista que teria tudo para ser babaca e sensacionalista para mostrar o quanto ele � de carne e osso. repito, ele soube virar o jogo. e na vida, n�o s� no campo, tamb�m temos que aprender a jogar. "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar".

Anônimo disse...

será que a vida é isso, um jogo constante em que ninguém perde nem ganha, embora, ilusoriamente, a sensação de perda - ou ganho - possa surgir?

rogério

retrolectro disse...

tudo lindo por aqui!
reativei meu espaço... acho que coisas boas surgirão por lá.
beijos!