Deve haver um motivo, uma única razão para tudo isso. Coisa do destino. Somos um rastro de luz que se transmuta em corpo humano. Não cessamos. A vida se revela como um palco de improvisos. E isso parece óbvio, de repente. O roteiro pré-formatado do nascer-crescer-estudar--casar-ter filhos-morrer se torna obsoleto. Sou uma filmagem tremida.
O gastroenterologista pergunta: quantas vezes ao dia? Descrevo a evolução do histórico intestinal, mas ele interrompe: quantas vezes? Quatro ou cinco, não tenho certeza. Minha diarréia não é objetiva. A vida não é objetiva -- e esse adjetivo está obsoleto para ela.
Sou filmagem tremida com borrões escuros e cores berrantes. Tenho medo do escuro. Sonho com cantoras que entoam sambas antigos vestindo peruca cor-de-rosa tipo bolo de noiva. E com o ex-namorado desde que eu soube que ele terá um filho. Também com filhotes de passarinho que pairam nas minhas plantas. Na vida real, sou luz irradiada. Reflito na lua, sinto o aroma perfumado das flores da esquina, cozinho o almoço atentamente. Procuro me compreender em um mundo que se diz objetivo.
Respiro a subjetividade da vida. Tudo são redundâncias. E discordâncias. A luz por hora me entorpece, faz com que eu me veja a caminho do bem maior. Por hora, enlouquece. Tenho medo do escuro. Sonho com o ex-namorado. Ele terá um filho. Entro em cena com as cantoras de samba antigo. Sou personagem secundário.
Tenho pensamentos violentos no ônibus urbano. Xingo a moça que não recolhe a bolsa no corredor apinhado de gente. Fico irritada com o homem encostado no apoio, impedindo que mais pessoas – inclusive, eu – se segurem ali. Fico descrente de um mundo que pára dentro do “conforto” de um carro. Sou o personagem secundário de uma vida frenética, farta de objetivos opacos.
Tem dias em que acordo tomada por um gozo. Sinto-me preenchida pela pureza de respirar e estar presente. Ser. Luz. Noutros, sou nada. Andarilha sem rumo, sem bússola, sem mapa e com as pernas cansadas. Nado contra a corrente da opacidade. Sinto-me em um grande rio que corre para o oeste. Mas quero ir para leste.
Tento me entender nos sonhos. Sonho para nutrir o brilho. Ouço verdades sem cor e as falas decoradas. Tudo parecia tão óbvio e agora deixa de fazer sentido. O apartamento será desmontado. Vou carregar na mochila duas blusas e um par de chinelos. Meu coração será a bússola. Conflitos são necessários apenas para que os sonhos sejam mais que sonhos. Deve haver uma razão para tudo isso.
O gastroenterologista pergunta: quantas vezes ao dia? Descrevo a evolução do histórico intestinal, mas ele interrompe: quantas vezes? Quatro ou cinco, não tenho certeza. Minha diarréia não é objetiva. A vida não é objetiva -- e esse adjetivo está obsoleto para ela.
Sou filmagem tremida com borrões escuros e cores berrantes. Tenho medo do escuro. Sonho com cantoras que entoam sambas antigos vestindo peruca cor-de-rosa tipo bolo de noiva. E com o ex-namorado desde que eu soube que ele terá um filho. Também com filhotes de passarinho que pairam nas minhas plantas. Na vida real, sou luz irradiada. Reflito na lua, sinto o aroma perfumado das flores da esquina, cozinho o almoço atentamente. Procuro me compreender em um mundo que se diz objetivo.
Respiro a subjetividade da vida. Tudo são redundâncias. E discordâncias. A luz por hora me entorpece, faz com que eu me veja a caminho do bem maior. Por hora, enlouquece. Tenho medo do escuro. Sonho com o ex-namorado. Ele terá um filho. Entro em cena com as cantoras de samba antigo. Sou personagem secundário.
Tenho pensamentos violentos no ônibus urbano. Xingo a moça que não recolhe a bolsa no corredor apinhado de gente. Fico irritada com o homem encostado no apoio, impedindo que mais pessoas – inclusive, eu – se segurem ali. Fico descrente de um mundo que pára dentro do “conforto” de um carro. Sou o personagem secundário de uma vida frenética, farta de objetivos opacos.
Tem dias em que acordo tomada por um gozo. Sinto-me preenchida pela pureza de respirar e estar presente. Ser. Luz. Noutros, sou nada. Andarilha sem rumo, sem bússola, sem mapa e com as pernas cansadas. Nado contra a corrente da opacidade. Sinto-me em um grande rio que corre para o oeste. Mas quero ir para leste.
Tento me entender nos sonhos. Sonho para nutrir o brilho. Ouço verdades sem cor e as falas decoradas. Tudo parecia tão óbvio e agora deixa de fazer sentido. O apartamento será desmontado. Vou carregar na mochila duas blusas e um par de chinelos. Meu coração será a bússola. Conflitos são necessários apenas para que os sonhos sejam mais que sonhos. Deve haver uma razão para tudo isso.
Um comentário:
antes de sair, não deixe de acender a lâmpada! a sua!
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