Casal pega ingressos gratuitos para um espetáculo no pequeno teatro da cidade. Dirige-se à platéia para se sentar. O palco fica praticamente na altura da primeira fila de espectadores e, entre as fileiras seguintes, só é possível ter mais visibilidade a partir da quinta, pelo menos 20 centímetros mais alta do que as outras.
-- Onde quer sentar, amor?
-- Aqui, aqui. (sorridente)
-- Na terceira fila? Por que não na primeira?
-- Ah, não, bem! Na primeira? (cara de desgosto)
-- Claro, ali não vai ter nenhuma cabeça na nossa frente, poxa!
-- É muito na frente, amor. Deixa de frescura e senta aqui, vai. Shhhhh que vai começar!
O mesmo casal compra ingressos para um show em um dos grandes teatros da capital. O palco tem pouco mais de um metro de altura em comparação com o piso da primeira fila de espectadores. Todas as fileiras ficam exatamente na mesma altura.
-- Amor, nem acredito que conseguimos ingresso para a primeira fila!
-- Não sei por que você fez tanta questão. Esse par de ingressos me custou os olhos.
-- Ai, bem! Uma vez na vida, vai!
-- Podíamos ter comprado cadeiras na quarta ou quinta fila pela metade do preço e veríamos o mesmo show.
-- Claro que não! Cheio de cabeças na nossa frente? Shhhhhhh que vai começar.
Não rezavam, mas passaram uma hora e meia com as cabeças inclinadas 90 graus para cima. Mais 20 minutos de bis.
2 comentários:
Adorei esse texto, que transfere para nós da platéia (da primeira fila?) todas as palavras e delas mesmas fazemos cada um, uma leitura íntima. Particular.
Você está cada vez melhor!
Oi, Débora! Tudo bem?
Passando para ler teus textos maravilhosos! ADOREI!
Vc tem um olhar muito apurado para as pequenas coisas da vida... e as coloca em palavras transformando-as em grandes atos de reflexão, por meio de sua sensibilidade. Maravilha!
Bom demais vir aqui!
Beijos
Patrícia Lara
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