sábado, 12 de junho de 2010

No rio, como os baiacus

A pequena casa de madeira era grande, grande. Ficava em um pequeno pátio de gramado bem verde, que parecia imenso. Num lado da casa, havia pinheiros gigantes. Noutro, a maior piscina que uma criança poderia desejar em toda a vida: um rio. Ali, passei veraneios com a família, lá pelos meus 10 anos de idade. A casa de madeira, o gramado verdinho com seus pinheiros e o rio ao lado, era tudo tão fantástico, que mal me lembro da praia. Na beira do rio, um trapiche curto e torto. Nele, eu e meu irmão, ora com os primos, ora com amigos que levávamos para desfrutar conosco daquele paraíso, armávamos varas para pescar baiacus e vê-los inflar. Um dia, pedimos ao nosso pai para pular no rio. Pra falar a verdade, não sei se pedimos mesmo ou se logo nos jogamos. Foi minha primeira vez num rio. Caí na piscina gigante e, de repente, estava a alguns metros de distância do trapiche. Meu pai, cada vez menorzinho, sinalizava, lá de cima, como se fosse um treinador: Nada! Nada! Esperava minha chegada tal qual a dos baiacus que pescávamos. Meu pai não pulou para me resgatar, tampouco meu irmão foi me socorrer. Eu nadava, nadava, superando metro a metro a compridez aguada com muitas braçadas e pernadas, até alcançar a terra firme. Sem bronca, nem comemoração, subi no trapiche, estufei o peito e continuei a brincar. O sol se pôs, como em todos os dias, rebrilhando sobre o rio: a estrada fluida que eu aprendia a trilhar. Daí, entendi os baiacus, sempre cheinhos de satisfação quando saíam d’água.

3 comentários:

Daise disse...

Que texto bonito, Débora.

Sempre acho que as narrativas de infância rendem as melhores histórias.

Beijo,

Anônimo disse...

Memórias deliciosas. Não são lembranças mas verdadeiros recantos que nos abrigam quando estamos enredados nas agruras da vida adulta. Beijos!

PALAVRA EM FUGA disse...

O olho atento à beleza de tudo, até dos baiacus. Você acaba de ressignificar inteiramente a palavra e o peixe para mim. Obrigada!