quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ébrios em rede

Três amigos de Débora encontravam-se no mesmo cenário, na mesma noite quente: um espetáculo de jazz sob céu estrelado, defronte à Baía de Todos os Santos. Não sabiam da existência um do outro, muito menos, que tinham uma amiga em comum. Ao contar para Débora no Facebook, Messenger, Twitter, Skype e afins sobre sua ida ao lugar de que ela tanto gostava, cada qual fez a mesma brincadeira: 'Te procurei, mas não te vi' - sabendo muito bem que ela estava a centenas de quilômetros dali. Nem imaginavam os três que, serpenteando pelo espaço lotado de gente bonita, ao som hipnótico do sax, cruzariam o caminho um do outro no exato momento em que pensavam 'gostaria que Débora estivesse aqui' - e que, se ela estivesse, beberiam juntos. Um bateu no cotovelo do outro que, assustado, derramou cerveja no terceiro. Olharam-se, desculparam-se, riram-se pelo 'efeito dominó' de sua [oculta] distração - a mesma mulher. No instante da trombada, a centenas de quilômetros de distância, Débora entupia-se de cerveja mirando na tela do computador o Facebook, Messenger, Twitter, Skype e afins, à procura de um sinal dos amigos. À mesa da sala, sob forte lâmpada de luz branca, os rumores dos raros carros na avenida ao lado misturavam-se aos ruídos dos bate-papos e Tweetdeck. Gole após gole, dividia os dedos entre copo e teclado - as pupilas, horas a fio dilatadas sobre a tela ácida. Embriagava-se, talvez, da própria ausência, Débora.